Uma nova visão sobre envelhecer e envelhecimento
Apr 21, 2025O conceito de Artful Ageing surge como uma proposta filosófica e prática voltada para transformar a percepção e experiência do envelhecimento, indo além do paradigma predominante do "active ageing", que geralmente enfatiza resultados físicos e cognitivos mensuráveis. O Artful Ageing integra duas teorias principais:
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"Minor gestures" (gestos menores) de Manning, destacando movimentos sutis e ações cotidianas aparentemente insignificantes, mas que têm um potencial transformador profundo no âmbito relacional e existencial.
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"Creative care" (cuidado criativo) de Basting, que enfatiza a importância de experiências criativas e interações significativas como centrais para a saúde emocional e a qualidade de vida, especialmente em contextos de cuidado a pessoas idosas e com demência.
Esta abordagem propõe a valorização de espaços físicos e existenciais como ambientes emancipatórios que promovem criatividade espontânea e estruturada, defendendo que o envelhecimento não deve ser encarado como um processo linear de declínio, mas sim como uma trajetória contínua e dinâmica de descoberta e transformação.
O Artful Ageing desafia diretamente as abordagens tradicionais de cuidado em contextos geriátricos e de longa permanência. Enquanto o paradigma biomédico tradicional enfatiza principalmente intervenções objetivas focadas na manutenção ou recuperação funcional, o Artful Ageing argumenta pela importância de experiências subjetivas e existenciais, destacando três dimensões fundamentais:
1. Espaços Físicos e Metafóricos
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Espaços físicos devem ser projetados para acomodar não apenas atividades planejadas, mas também momentos espontâneos de expressão e conexão.
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Espaços metafóricos são vistos como oportunidades existenciais onde indivíduos podem explorar aspectos emocionais e criativos do envelhecimento, criando possibilidades de "fugas", "refúgios" e "experiências emancipadoras".
2. Envelhecimento como Processo de Transformação
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A teoria sugere que o envelhecimento pode ser entendido como um processo contínuo de "tornar-se" (becoming), no qual pequenos momentos—"gestos menores" e "momentos de admiração"—podem ter grande significado existencial.
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Destaca-se a importância de reconhecer a potência das pequenas interações e encontros cotidianos, muitas vezes ignorados nas abordagens tradicionais.
3. Reorientação do Cuidado Geriátrico para o Campo Criativo e Relacional
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O Artful Ageing propõe substituir o foco limitado em resultados físicos por uma ênfase maior em experiências criativas e interações significativas.
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Cuidado criativo não é apenas atividade terapêutica ou recreativa, mas sim um meio para conexões humanas profundas, especialmente em contextos de demência e declínio cognitivo.
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Esta abordagem valoriza explicitamente a presença, escuta ativa e interações criativas espontâneas entre idosos e seus cuidadores.
Além disso, a abordagem defende uma nova compreensão sobre o aprendizado contínuo e desenvolvimento pessoal na velhice. Ao invés de priorizar apenas aprendizado cognitivo tradicional, o Artful Ageing enfatiza o aprendizado experiencial, criativo e relacional, apontando que o desenvolvimento pessoal pode continuar mesmo com a presença de desafios físicos ou cognitivos.
A prática emerge como um poderoso modelo filosófico e prático que desafia radicalmente concepções tradicionais sobre envelhecimento, cuidado geriátrico e aprendizado contínuo ao longo da vida. Ao combinar as teorias inovadoras de Manning e Basting, oferece uma visão integrada que enfatiza a importância de experiências subjetivas, relacionais e criativas como centrais à vida na velhice.
Os resultados desse estudo indicam claramente que, quando implementado em ambientes institucionais de cuidado, o Artful Ageing pode transformar significativamente não apenas a experiência dos idosos individualmente, mas também as dinâmicas relacionais e estruturais de instituições que tradicionalmente seguem paradigmas biomédicos restritivos. Ao propor ambientes emancipatórios que acolhem tanto o planejado quanto o espontâneo, esta abordagem estimula uma mudança profunda no modo como a velhice é vivenciada e percebida, ampliando significativamente as possibilidades de conexão, significado e crescimento pessoal ao longo da vida.
Finalmente, a síntese apresentada pelo Artful Ageing sugere um caminho promissor para políticas públicas e práticas profissionais mais inclusivas, humanas e eficazes no cuidado aos idosos, enfatizando que momentos pequenos e espontâneos têm um valor inestimável no processo contínuo de tornar-se humano. Ao abraçar essa perspectiva, pode-se promover um envelhecimento mais significativo, criativo e plenamente vivido, oferecendo um contraponto essencial às narrativas dominantes que frequentemente reduzem a velhice à mera manutenção funcional ou declínio inevitável.